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Celebrando os 50 anos de Stonewall, leia a justificativa da 23ª Parada LGBT de SP

Publicado em 13/06/2019

Celebrando a história de luta da comunidade LGBTQ+ mundial, a 23ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que está marcada para acontecer no dia 23, traz como tema os 50 anos de Stonewall.

Em um texto divulgado à impressa, a organização do evento, que está a cargo da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT-SP), conta o porque da escolha do tema e de sua importância na luta pelos direitos civis da comunidade.

“Esse tema reforça a ideia de que pessoas LGBT+ possuem representação social, política, cultural e jamais se renderão ao autoritarismo, ao conservadorismo, nem às ameaças de retrocessos de conquistas, arduamente alcançadas nesses 40 anos de história do movimento LGBT no Brasil e 50 anos pelo mundo. Sim, isso é um grande motivo de orgulho”, diz um trecho do texto.

Confira a justificativa na íntegra:

Ao longo da história, a humanidade aprendeu que as conquistas e os progressos são acompanhados por derrotas e retrocessos. Foi assim que movimentos por liberdade nasceram, guerras surgiram e direitos foram estabelecidos. Neste ano, comemoramos os 50 anos da Revolta de Stonewall, um exemplo de que vitórias podem surgir a partir do sofrimento e da repressão. Na madrugada de 28 de junho de 1969, um grupo de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) frequentadoras de um bar, o Stonewall Inn, em Nova York, nos Estados Unidos, resolveram, após uma batida policial, dar um basta às agressões, preconceitos, humilhações e perseguições que sofriam. Foram três dias de resistência e enfrentamento com a polícia. Naquela época, ter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo era ilegal em todos os estados americanos.

A revolta tornou-se o marco de uma série de protestos e reivindicações por direitos LGBT, que se espalharam pelo país e influenciaram outros movimentos LGBT pelo mundo. Um ano depois, em 28 de junho de 1970, em Nova York, foi realizada a primeira Parada do Orgulho, em celebração à Revolta de Stonewall. Cerca de 10 mil pessoas participaram daquela marcha. No ano seguinte, Londres também faria sua primeira Parada, seguida por outras cidades pelo mundo, sucessivamente, até os dias de hoje.

Aqui no Brasil, parte desses 50 anos de história pode ser contada pelas páginas do Lampião da Esquina, o primeiro jornal homossexual do país, que circulou entre 1978 e 1981. A publicação marca o início do movimento brasileiro que, poucos meses depois de lançado, funda o grupo Somos – Grupo de Afirmação Homossexual. O periódico discutia, de forma bem humorada, temas relacionados à homossexualidade masculina, mas também política, feminismo, questões raciais e outras minorias, indo na contramão da esquerda de então, que enxergava a causa homossexual como algo menor, sem importância.

O jornal denunciava abusos cometidos pela ditadura militar contra LGBT, como o caso do jornalista Celso Curi, autor da primeira coluna gay do jornalismo brasileiro, intitulada “Coluna do Meio”, que circulou no jornal carioca Última Hora entre 1976 e 1978. Curi foi processado e demitido acusado de “ofender a moral e os bons costumes”. Outros destaques do Lampião foram as prisões arbitrárias de lésbicas em 1980, em São Paulo, apelidada de “Operação Sapatão”, comandada pelo delegado José Wilson Richetti, considerado o terror das travestis. Richetti deflagrou, em maio de 1980, a “Operação Limpeza”, com o propósito de prender homossexuais, travestis e prostitutas no centro da capital paulista. Mais de 1.500 pessoas foram detidas. Naquele mesmo ano, cerca de mil gays, lésbicas, travestis e prostitutas saíram da frente do Teatro Municipal de São Paulo e marcharam pelas ruas do centro contra a violência policial, sob a palavra de ordem: “abaixo a repressão, mais amor e mais tesão”.

Outros pedaços dessa narrativa histórica estão nas letras de canções que desafiaram a censura e cantaram o amor entre iguais, como fez o cantor Odair José, em 1978, com a música “ Forma de Sentir”. Essa memória também está espalhada nas trajetórias de artistas LGBT que contrariaram os padrões de comportamento de uma sociedade, ainda mais conservadora que a atual, como faziam o cantor Ney Matogrosso com seu figurino andrógino e trejeitos femininos, e a cantora Angela RoRo com suas letras e falas polêmicas, muito antes de existir o youtube, as redes sociais e seus influenciadores.

Se hoje temos artistas que ganham seu espaço sem renegar publicamente suas identidades de gênero e orientações sexuais, cantando o seu empoderamento e orgulho de serem quem são, como Pabllo Vittar, Gloria Groove, Jhonny Hooker, Liniker, Linn da Quebrada, entre tantos outros exemplos, é porque outras pessoas abriram caminhos. Mesmo não levantando a bandeira da causa LGBT+, elas endereçaram às massas questões consideradas tabus. Assim foi com a modelo Roberta Close, mulher intersexo, considerada ícone de feminilidade dos anos 1980, que posou nua na revista Playboy em 1984.

Aquele era um período conturbado. No ano anterior, em 19 de agosto de 1983, as lésbicas que frequentavam o Ferro’s Bar, um bar já extinto no centro de São Paulo, lançaram um manifesto pelos direitos das lésbicas, conhecido como o Levante do Ferro’s Bar. Dias antes, o dono do lugar havia chamado a polícia e proibido as mulheres de vender ali uma publicação chamada “ChanacomChana”, considerada um atentado aos bons costumes.

Uma década que havia começado com o entusiasmo e a efervescência de uma geração ávida pelos seus direitos, terminava estigmatizada pelo aumento do número de casos de AIDS e o crescimento do preconceito contra homossexuais. É somente na segunda metade dos anos 1990 que o movimento LGBT brasileiro começa a tomar corpo. A própria Parada do Orgulho LGBT de São Paulo surge apenas em 1997, levando cerca de 2 mil pessoas pela Avenida Paulista, após um ensaio um ano antes, durante uma pequena manifestação na Praça Roosevelt, no centro. Em 1996, o Rio de Janeiro realizava a sua primeira caminhada. Assim como as demais marchas, a Parada de São Paulo é inspirada na coragem daquelas pessoas que se revoltaram contra a ordem ideológica, econômica, política e legal imposta por uma sociedade e um Estado de uma época. Como repetia a travesti negra Marsha P. Johnson, considerada a pessoa que arremessou a primeira pedra contra a fachada do Stonewall, dando início à revolta, “não há orgulho para alguns sem a libertação de todos nós” (no pride for some of us without the liberation for all of us).

Orgulho é, portanto, algo que devemos exercitar para que todas e todos sejam livres do preconceito, da perseguição e das restrições impostas. Por isso, é preciso ter orgulho da nossa história de luta e conquistas. Ainda há muitos avanços por quais lutar, mas é necessário comemorarmos nossas vitórias. A disponibilização do tratamento de HIV/Aids no SUS, em 1996 e ampliado em 2013, é uma delas; assim como foram a união estável homoafetiva, em 2011; a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a favor do casamento civil homoafetivo, em 2013; a adoção de criança por casal do mesmo sexo, em 2015; o uso do nome social na educação básica reconhecida pelo Ministério da Educação, em 2017; a resolução que definiu o uso do nome social de travestis e transexuais nos registros escolares; a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) garantindo o direito à inclusão do nome social no cadastro de eleitores; a retificação de nome e gênero na certidão de nascimento no cartório, sem a necessidade de advogado nem apresentação de qualquer laudo ou aval de juízes ou promotores de justiça. Essas últimas, todas em 2018.

Para reforçar o nosso compromisso com a luta por mais respeito, aceitação, tolerância e direitos, a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT-SP) resgata nossa história e convida todas as pessoas e movimentos que compartilham dos mesmos valores para celebrar a 23ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, no dia 23 de junho de 2019, com ritmo de alegria, desconstrução e muita lacração, o tema “50 anos de Stonewall: nossas conquistas, nosso orgulho de ser LGBT+”. Esse tema reforça a ideia de que pessoas LGBT+ possuem representação social, política, cultural e jamais se renderão ao autoritarismo, ao conservadorismo, nem às ameaças de retrocessos de conquistas, arduamente alcançadas nesses 40 anos de história do movimento LGBT no Brasil e 50 anos pelo mundo. Sim, isso é um grande motivo de orgulho!

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