Natal
Sungas, cuecas e chinelos
com 50% de desconto
enquanto durar os estoques
Utilize os cupons:
SUNGASPRIDE
CUECASPRIDE
CHINELOSPRIDE
Natal Pride Brasil
conteúdo

Feminismo e história: Tensão entre feministas lésbicas e bissexuais

Assim como o movimento LGBT não começou com Stonewall, muita coisa aconteceu antes das sufragistas

Publicado em 14/01/2022

Falar de emancipação da mulher consiste em abrir um leque gigantesco, com várias nuances, epistemologias/vertentes e conflitos também, claro, já que cabeças pensam de formas distintas. A mulher, que não é um grupo homogêneo, tem a sua subjetividade. Antes da responsabilidade coletiva existe o processo de individuação, no qual o pensar é o próprio Si-mesmo e cada uma enxerga a realidade e a vivencia de forma única e intransferível.

Existe essência masculina e feminina ou esse papo é muito metafísico? A inferiorização da mulher é oriunda de seu sexo ou de seu gênero? A orientação sexual corrobora essa discriminação? Mulher é mais sentimental e homem objetivo? Os rapazes são mais corajosos? Rivalidade feminina é mito ou, de fato, mulheres são mais vaidosas? Pois bem, essas indagações foram respondidas ao longo dos anos e das ondas feministas. Na verdade, o que se propõe são formas de solucionar um problema, que seria uma opressão.  

Como existem muitas dúvidas sobre o tema, que aliás é bem amplo e congloba o mundo inteiro, um resumo, a quem interessar, sobre o  feminismo, ondas, direito ao voto e alguns entraves entre as próprias feministas.

Pré-feminismo

Não é possível falar em feminismo sem que tenha um pensamento organizado e sistematizado, bem como uma fala imperativa de uma mulher que se entenda como detentora de direitos.

Todavia, mulheres como Hipatia e  Artemisia Gentilesch, por exemplo, costumam ser citadas justamente porque foram mulheres que sofreram em suas épocas. Elas não devem ser citadas como feministas, pois isso seria errado, já que não se categorizavam assim, mas como exemplos de mulheres que foram usurpadas e até mortas porque transcenderam as convenções da época. A Igreja Católica colocava os seus dogmas como insofismáveis. 

Artemisia sofreu com a indiferença e a rejeição do mundo artístico de seu tempo, 1600, por ser mulher. Além disso, a autoria de seus quadros era atribuída a seu pai e outros artistas masculinos. Essa apropriação das obras femininas era muito comum. Várias artistas mulheres travaram brigas incisivas para recuperar a autoria de suas próprias produções. Outro nome é Hipátia. A filósofa desenvolveu estudos sobre a aritmética de Diofanto de Alexandria, matemático grego do século 3 a.C. Ela despertou a fúria de fundamentalistas cristãos. O crime aconteceu entre 415 e 416 depois de Cristo. Ela foi despedaçada por uma multidão que usou telhas dos telhados e conchas de ostras para cortar a carne viva do seu corpo.

Coletividade e individualidade

O movimento coletivo tira a sua individualidade? Se você incorporar o grupo sim, mas não foi o que aconteceu no transcorrer do movimento, já que pensamentos diferentes vieram à luz. Existe um conceito chamado diferenciação.  A psicologia das diferenças individuais traz os processos cognitivos que formam fatores de diferenciação interpessoal, como a personalidade do sujeito. Além disso, você pode ter a sua liberdade individual e se juntar a grupos para ecoar e fortalecer pautas justas em sua visão.

1ª Onda –

Direitos fundamentais básicos – Igualdade no trabalho, voto e matrimonial.

Se você buscar no Google, vai perceber que o feminismo como movimento articulado – vertentes e demandas – começa no século XIX com as sufragistas. Não está errado, mas a luta feminina não começou lá, muita coisa emergiu antes.

O contexto sociocultural  da época já nos dá sinalizadores de quem foram as primeiras mulheres a iniciar esta luta. As brancas e burguesas, já que mulheres negras estavam em um patamar ainda mais marginalizado e sofriam intensamente com o racismo.

Fase iluminista da Revolução Francesa – Igualdade, Liberdade e Fraternidade. A Revolução Francesa foi basicamente um processo de ruptura com o regime monárquicoabsolutista ocorrido entre os anos de 1789 e 1799. Nesse sentido, a França se deslocou para um processo republicano democrático. Os homens tinham direito à propriedade privada, as mulheres não. 

O papel das mulheres na sociedade francesa teve grande importância para o processo da Revolução Francesa, tendo iniciado com a elaboração das Cahiers de Doléances – que são registros nos quais a assembleia de cada das circunscrições francesas, encarregadas de eleger os deputados para os Estados Gerais, anotava petições e queixas da população. “Elas participaram ativamente do processo revolucionário da França, embora não tenham representado em termos quantitativos um percentual equivalente ao dos homens nas atividades de militância” (SOUZA, 2003, p. 115).

Elas faziam reivindicações por meio de cartas ao rei, pedindo por mais oportunidades, igualdade em relação aos homens, divórcio e liberdade. A vindicação pela mudança de regime era geral, visto que o atual governo estava solapado. 

Em resumo, a primeira vertente do feminismo foi liberal, o que contrapõe o pensamento de quem aventa que o movimento tem uma raiz essencialmente marxista. 

Alguns nomes podem ser citados – Olympe de Gouges, aristocrata francesa, teve uma atuação feroz em defesa da cidadania política das mulheres. Defendeu a emancipação feminina e a liberdade de escravos no século XVIII. Ela foi presa e condenada à guilhotina pelo Tribunal Revolucionário em 1793.

Mary Wollstonecraft – Foi testemunha e protagonista da cena iluminista, para a qual contribuiu com a inclusão da temática da igualdade de gênero. É mãe de Mary Shelley, a célebre autora de Frankestein. Escreveu a Reivindicação dos Direitos da Mulher, 1792, obra composta por treze capítulos nos quais a autora evidencia a inferiorização feminina e pede por mais dignidade, inclusive na educação.

Nesta época, outro nome conhecido foi o de Madame de Stael, que não tinha nada cívico direcionado às mulheres, mas acreditava que o público feminino poderia exercer um certo tipo de poder sobre os homens e suas decisões, algo mais sorrateiro. Ela, então, foi exilada entre os anos de 1792 a 1814.

Em resumo,  Iluminismo – racionalidade, cientificismo e questionamentos. As mulheres começaram a questionar o motivo de não ter direitos e o lugar no qual estavam alocadas.  Essa indagação foi o motriz para as reinvindicações. Tudo começa pela pergunta. 

Revolução Industrial, Inglaterra – Aqui começa uma discussão sobre classe x burguesia. 

Feministas marxistas e sindicalistas – Aqui as mulheres entenderam que feministas liberais não conseguiam entender os seus problemas reais. Para elas, a raiz do problema era a exploração do mercado.

Época das Mulheres operárias. Vindicação de direitos básicos, como condição de trabalho, por exemplo. O Capitalismo, então, foi propulsor para liberdade feminina? O capitalismo oportuniza, mas também explora, sobretudo se a pessoa estiver em uma condição vulnerabilizada e sem conhecimento de seus direitos e deveres. O que importa é o lucro e a competição, isto, sim, amplifica as oportunidades, mas também desumaniza o sujeito.

“União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas”, trouxe um feminismo de ideologia anarquista, que perdeu a força em 1930. Em 1917, por meio de manifesto, elas denunciam a situação da mulher nas fábricas e oficinas. 

Sufragistas – Direito ao Voto no Brasil –  Fim do século XIX e o início do século XX – Marco e deixou a 1ª onda do feminismo conhecida

Direito ao voto tornou-se a principal reinvindicação das mulheres de elite. 

O sufrágio 

Tem suas origens na urbanização e na industrialização do século XIX”, diz a historiadora Lidia Possas, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). 

Na Inglaterra, as sufragetes começaram com grandes manifestações em Londres. Emily Davison atirou-se à frente do cavalo do Rei e morreu, em 1913, na famosa corrida de cavalo em Derby. O direito ao voto veio em 1918, no Reino Unido. 

Emmeline Pankhurst foi uma das principais lideranças do movimento sufragista britânico. Polêmica, entendeu que o seu ativismo precisava, literalmente, de fogo para se alastrar. Bomba, brigas e uma militância incendiária compuseram a sua luta.Contou com a colaboração das filhas Chrystabel, Adela e Sylvia. Sylvia, no entanto, queria que a organização se aliasse explicitamente ao socialismo do Partido Trabalhista Independente. Divergiu do grupo e, por meio do voto da maioria, foi expulsa.

Harriet Taylor, ou Harriet Taylor Mill, foi uma filósofa inglesa e defensora dos direitos das mulheres. Membro original da Sociedade Kensigton, que produziu a primeira petição requerendo votos para as mulheres. Escreveu muito sobre violência doméstica e é conhecida por ter influenciado “A Liberdade”, de John Stuart Mill.

A Nova Zelândia teve primazia e se tornou o primeiro país a garantir o sufrágio feminino, graças ao movimento liderado por Kate Sheppard, em 1893. Estimulou também pautas que dispuseram sobre controle no uso de bebidas alcoólicas no país, para acabar com a violência doméstica por homens bêbados.

Campanha Antifeminista

Nesta época, surgiu uma propaganda antifeminista maciça com o intento de suprimir o sufrágio feminino. Cenas escalafobéticas eram expostas para colocar medo na população e incentivar a desinformação. Desenhos de homens limpando o chão enquanto a mulher sai para trabalhar, mulheres no bar fumando e o homem em casa lavando a louça, dentre outras situações bizarras. Na propaganda, a mensagem que deveria ser passada era – “Isto é o que o sufrágio vai causar“.

Voto no Brasil – movimento encabeçado por Leolinda Daltro, lutou pela autonomia e por mais oportunidades para as mulheres no século XIX.

Miêtta Santiago – Advogada, impetrou um Mandado de Segurança em que alegava que o veto ao voto das mulheres contrariava o artigo 70 da Constituição Brasileira de 24 de fevereiro 1891, então em vigor.

Bertha Lutz – Responsável direta pela articulação política que resultou nas leis que deram direito de voto às mulheres e igualdade de direitos políticos nos anos 20 e 30.

Diva Nazário – Em 1922, Diva argumenta que a Constituição de 1891 não estabeleceu vedação expressa ao voto feminino, e faz sua tentativa de alistamento, negado posteriormente. A fundamentação da negação foi que a mulher deveria seguir exercendo sua atividade essencialmente doméstica. Ela já tinha feito outra tentativa predecessora, mas o pedido foi indeferido sob o argumento de que a mulher não era considerada cidadã. Diva Nolf e seu livro, Voto Feminino e Feminismo: um ano de feminismo entre nós. Nos dois primeiros capítulos, uma explanação completa da participação da mulher na vida pública.  

Em relação à imprensa, ela não era nada afável com as reuniões feministas e resolveu categorizar os movimentos como o “congresso de solteironas desocupadas”. 

Em 1927, as professoras  Júlia Barbosa e Celina Guimarães Viana lograram o direito de se alistar como eleitoras, no estado do Rio Grande do Norte, por meio de uma lei estadual. No entanto, o voto feminino foi garantido no art. 109 da Constituição Federal de 1934.

Homens podem ser excelentes aliados. Grandes conquistas da civilização vieram deles.  Em 1890, durante a elaboração da primeira Constituição republicana, o constituinte baiano César Zama defendeu o sufrágio universal, mas por questões políticas, o que ele queria era que o Brasil fosse pioneiro neste direito. Isto deu margem para muita gente dizer que a mulher não fez nada além de alardear. Mas no Brasil, na primeira vez que as mulheres conseguiram o direito de votar, os seus votos foram anulados. 24 de fevereiro de 1932 foi um marco na história da mulher brasileira. Código Eleitoral passou a assegurar às mulheres brasileiras o direito ao voto.

2ª onda –  A partir de 1960 – Contexto social de Guerra Fria

A Guerra Fria termina com a Queda do Muro de Berlim (1989) e o fim da União Soviética, em 1991.

Vamos aos nomes – Simone de Beauvoir, polêmica e com várias acusações na conta. Vida pessoal se sobressai às obras? Você pesquisa, detalhadamente, a vida de todo autor cujo conteúdo aprecia? Simone era existencialista, isto é, uma busca por liberdade. A teórica trouxe o feminismo radical. As feministas radicais são oriundas da vertente de Simone. Radical vem de raiz.

Livro Segundo Sexo – “Não se nasce mulher, torna-se”. Aqui a autora crava a ideia de que a mulher sofre das opressões que a sociedade impõe, por meio de papeis, sobre o que é ser mulher, desde o nascimento. Aquelas caixinhas – isso é para meninos e aquilo para meninas. Simone entende que estas atribuições delimitarão o que a mulher tornará. Ou seja, Simone é abolicionista de gênero. A filósofa acredita que essas caixinhas aprisionam mulheres e homens. Para ela, a opressão acaba se esses papeis se romperem.

Angela Davis – filósofa, escritora, professora e ativista estadunidense. Marxista que foi integrante dos Panteras Negras, lutou ferrenhamente contra o racismo nos Estados Unidos.

Nesta fase o feminismo negro ganhou força, justamente porque entendeu-se que mulheres negras sofrem de forma diferente em relação às mulheres brancas. 

Debate sobre liberdade e direitos reprodutivos das mulheres, métodos para evitar a gravidez. 

Conhecimento a respeito do corpo feminino. 

De acordo com tratado Hipocrático, o corpo da mulher era inacessível aos médicos. Desse modo, tudo o que se sabia eram apenas confissões de parteiras e pessoas que tivessem acesso a esse universo íntimo e intocável. Era impensado crer, por exemplo, que duas mulheres juntas conseguissem fazer sexo.

Kate Millett, 1970, com Política Sexual. Em sua obra, Kate cita o psicanalista Sigmund Freud e sua ideia de que a mulher morre de “inveja do pênis”.  Segundo Freud, em linhas bem gerais, a mulher culpa a sua genitora pela falta de pênis no seu corpo. Dentro da psicanálise freudiana, a angústia de castração (Kastrationsangst) alude a um medo inconsciente da perda do pênis originário durante o Estágio fálico do desenvolvimento psicossexual e transcorre a vida inteira. Milett também fala da mulher e os preceitos bíblicos, como se a bíblia, de certa forma, detestasse a vagina, sinalizando o desprezo da religião cristã desde a antiguidade.

Audre Lorde, militante com as mulheres afro-alemãs na década de 1980 é crítica das feministas da década de 60, que negligenciaram questões raciais. Ela entende que feministas brancas não podem entender os seus problemas. Audre fala sobre ser mulher, negra e lésbica. Traz à tona o erótico e a sexualidade, que para ela compõem sua identidade, por isso sua teoria reverberou na terceira onda, por conta da interseccionalidade.

Separar autor da obra

Acusada de tentar abaixar a idade de consentimento sexual na França, Simone de Beauvoir  é ferozmente criticada por sua vida pessoal, outras feministas também foram.  Naquele tempo, se você tinha uma ideia considerada impopular era melhor destruir a sua reputação, claro. Mas suponhamos que as acusações de que Simone aliciava meninas sejam verdadeiras, todas as suas obras vão para o lixo? Então é melhor não apreciar mais Caravaggio e nem Pablo Picasso. Woody Allen levou para cama, mas não para dormir, Soon-Yi Previn, ainda pequena, filha de sua companheira Mia Farrow, melhor não lê-lo mais? 

3ª Onda – Interseccionalidade – Teoria Queer, Gênero

Judith Butler é uma filósofa pós-estruturalista. No caso, a Judith não propõe a abolição do gênero como a Simone, mas sim entender melhor o seu lugar no mundo e como performar isso com liberdade. Ela trouxe um debate mais profundo sobre performance de gênero, heterossexualidade compulsória, pautas identitárias, lesbianidade e não-binariedade.

A teoria Queer não é monolítica, Paul B. Preciado é um nome bem conhecido.

Bell Hooks – Conhecida autora do livro O Feminismo é para todo mundo. Propôs um debate amplo sobre raça, educação, gênero e sexualidade.

4ª onda –

Ciberativismo – Grupos na web e debate nas mídias sociais, sites e blogs.

Lésbicas X Bissexuais

Sabe aquela ideia de que mulheres bissexuais servem bem o fetiche dos caras héteros que gostam de um Ménage à trois? Pois bem, ela não é de hoje. Feministas lésbicas acreditavam que as bissexuais serviam ao capitalismo, que se aproveita disso, e aos homens.  Durante os anos entre 1989 e 1993 eclodiu o embate mais inflamado entre elas, no qual a bissexualidade foi vista como antifeminista 

As tensões entre feministas bissexuais e feministas lésbicas diminuíram a partir da década de 1990. Algumas feministas lésbicas, como Julie Bindel, ainda são críticas à bissexualidade. Sheila Jeffreys no The Lesbian Heresy também teceu críticas à bissexualidade, sobretudo aos homens bissexuais.

Muita gente diz que esta terceira onda abraçou o movimento GLS, era assim na época. Mas o movimento LGBT logo se desassociou do feminismo. Gays foram grandes pioneiros do movimento aqui no Brasil e mundo afora, lésbicas se organizaram posteriormente. Mas o movimento LGBT não ganhou tanto apoio da esquerda ortodoxa, já que a preocupação era mais direcionada para os proletariados. 

As mulheres se perderam um pouco neste período. Muita pauta e pouca organização e discernimento. Ao colocar a mulher bissexual simplesmente como objeto de fetiche, os verdadeiros desejos dela não são considerados. E ser dona do seu desejo e bancá-lo não é poder?

A discussão de hoje sobre as mulheres no pornô ser ou não uma forma de opressão é herança desta época. Feministas radicais divergem de liberais, pois entendem que plataformas como OnlyFans, por exemplo, se aproveitam dos adeptos por conta dos direitos autorais das fotos e da objetificação. 

Neste tema pornô é bacana enfatizar que homens e mulheres podem ser alvos. Atores pornô, para manter a ereção por horas, precisam recorrer a medicamentos e injeções. 

Críticas entre feministas

Camille Paglia criticou feministas contemporâneas, com rancor, ressentimento e ódio de homens – “Eu admiro demais essa geração de mulheres. Porque elas não atacavam os homens, não insultavam os homens e não apontavam os homens como fonte de todos os problemas das mulheres. O que elas pediam era igualdade de condições no âmbito da carreira e da política e queriam demonstrar que podiam obter as mesmas conquistas dos homens”, disse ela, em uma entrevista à Folha de SP, ao falar sobre as feministas da década de 60. 

Será que o feminismo hoje teria mais credibilidade se as mulheres entendessem, por exemplo, que homens não têm privilégio em profissões como modelo, já que neste âmbito as garotas ganham mais e têm maior visibilidade? E as profissões com maior risco à saúde, quem as ocupa? Há mais homens engenheiros porque as mulheres optam menos por estas profissões ou pelo fato de elas não serem encorajadas desde o início para seguir áreas assim? Acredito que uma mistura entre tendências biológicas e construção social explicaria. E o Futebol feminino, talvez, tenha menos investimento porque a procura é menor e não por puro machismo. Será que se esses dados concretos da realidade fossem considerados, as pautas das mulheres seriam vistas com olhos mais amistosos?

Curiosidades

A palavra “Feminisme” foi usada pela primeira vez pelo sociólogo francês Charles Fourier em 1837, que acreditava na emancipação. Antes disso, conforme já foi explanado, mulheres já lutavam.

Nísia Floresta foi a pioneira do feminismo, periodismo e literatura de autoria feminina no Brasil. Em 1838, a teórica funda, no Rio de Janeiro, um dos primeiros colégios exclusivos para meninas, o Colégio Augusto, com aulas de português, matemática e história, assim como para os meninos.

Carmen da Silva (1919-1985) foi uma das precursoras do feminismo do Brasil. Suas obras de ficção em uma coluna de jornal foram confundidas como sendo de autoria masculina.

TERF – TERF é uma abreviação para feminista radical trans-excludente, termo cunhado em 2008.

Feministas que excluem mulheres trans entendem que a opressão das mulheres vem desde o nascimento, com papeis estabelecidos a elas. A opressão seria advinda do sexo. Para elas, mulheres trans reforçam estereótipos de gênero ao se entenderem como mulher a partir de um olhar estereotipado do que é ser mulher.

A criação do Conselho Nacional da Condição da Mulher (CNDM), em 1984, foi uma grande vitória da mulher. O Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), de Brasília promoveu uma campanha em prol da inclusão dos direitos das mulheres na nova carta constitucional. A Constituição de 1988 é uma das que mais assegura direito à mulher no mundo.

Maria Quitéria é conhecida como a Joana d’Arc brasileira. Ambas tiveram que se vestir de homem para ir à guerra.

Antifeminismo

Ganhou força no Brasil com a eleição de Bolsonaro, quando o conservadorismo se solidificou, mas os argumentos remontam épocas mais antigas. AntiFeministas entendem que o feminismo surgiu com homens, cujo intento seria usar mulheres como massa de manobra como forma de poder. Elas acreditam que o principal intento do movimento feminista é a revolução sexual. Citam também “ideologia de gênero”. Para elas, há um claro intento de subverter o verdadeiro papel da mulher que seria dar à luz, casar e buscar o transcendente, já que uma vida materialista de muito trabalho deixaria as mulheres infelizes e adoecidas mentalmente. Elas costumam fazer “análises psicológicas precoces”, usando termos médicos como neuróticas –  um dos principais pontos da teoria de Freud, e perversão – O conceito psicanalítico de “perverso” tem origem na obra de Freud, nos Três Ensaios Sobre a Teoria de Sexualidade, publicado em 1905.

Elas, também, se recusam a reconhecer as conquistas das feministas e dizem que as mulheres não fizeram nada além de manifestações sem efeitos. Tipo assim – “Eu não devo nada a esta mulher devassa e destruidora de lares”.

Existe uma resistência com mulheres livres sexualmente, sob o argumento de que isso seria libertinagem. Na verdade, costuma ocorrer esta rachadura e rivalidade entre as meninas por, sobretudo, questões religiosas, mas também por medo. 

Como a sociedade reage perante essas mulheres mais libertas de tabu? Ou melhor, como o meu marido se comporta diante desta mulher?

Aqui falamos de Antifeministas, que se dedicam a este ativismo, e não de meninas que simplesmente não se consideram feministas.

Manifestação não serve para nada?

A manifestação é uma forma de dar robustez para um questionamento. Quando uma pessoa não tem espaço na política o que resta para ela? Gritar! O movimento “Quem Ama Não Mata”, criado em Belo Horizonte em agosto de 1980, ainda durante a ditadura militar, é um dos mais antigos do país. “Quem Ama Não Mata” também foi o slogan utilizado em 1981, por ocasião do segundo julgamento de Doca Street, que assassinou Ângela Diniz. Ângela saiu como culpada de sua morte, porque tinha uma vida livre sexualmente. Ela foi vista como a mulher lascívia que seduzia os homens. Após grandes manifestações, o olhar da sociedade e do judiciário começou a mudar. Foi um ponto de partida.

Culpabilizar a vítima pela roupa também foi tema de protesto. “*A Marcha das Vadias” é uma mobilização essencialmente feminista que teria acontecido pela primeira vez em 2011, na Escola de Direito Osgode Hall, cidade de Toronto no Canadá. O levante seria uma resposta a um policial que, indagado acerca dos abusos maciços sexuais ocorridos contra mulheres dentro da Universidade de Toronto, respondeu que abusos acabariam quando a mulher parar de se vestir feito uma vadia. (Ele usa a palavra sluts). Aí surgiu o SlutWalks (caminhada ou marcha das vadias). Hoje, por exemplo, quando alguém culpabiliza a vítima por conta da roupa, isso gera uma resposta negativa por parte de muitas pessoas. 

O estupro marital é um delito praticado desde os primórdios da existência humana, entendeu o jurista Fernando Capez. Era muito comum, já que a mulher não era um ser com direitos e desejos. Casada, deveria servir e não colocar na mesa o que pensa e sente. A partir do questionamento de que as mulheres possuem, sim, direitos, essa realidade também foi questionada. Com a Lei Maria da Penha, a sanção para relação sexual forçada também foi colocada.

Mulheres trans podem sofrer misoginia?

Mulheres trans pertencem ao gênero feminino, logo, são contempladas em todas as leis concernentes ao gênero feminino. Sobre sofrer misoginia ou não, o caso precisará ser analisado com justiça. Existem violências que são de sexo. Em 2018, Svetlana Sapogova, 41, morreu após ter a vagina dilacerada depois de ser estuprada por um ‘macaco’ hidráulico. O rapaz a conheceu em um velório de um conhecido em comum dos dois. Ofereceu uma carona e a estuprou, depois abriu a ferramenta dentro dela. A vagina e o útero foram rasgados. Esta é uma violência de sexo. 

Alexandra Kollontai e feministas mais agressivas 

Uma crítica ferrenha ao feminismo, que inclusive é usado contra o movimento, versa sobre a forma agressiva de algumas feministas teóricas ao se referirem à maternidade, família e submissão feminina. 

Alexandra Kollontai, autora russa marxista e feminista que se destacou durante o regime de transição socialista iniciado com a Revolução Russa Proletária de outubro de 1917, tinha ideias polêmicas sobre família, amor livre, maternidade e criação de filhos. Marxista, então entendia que o mercado explorava a mulher. Ao entender que a família seria uma forma de opressão, propõe o amor livre e a socialização da criação dos filhos.

Shulamith Firestone – Virou piada ao defender úteros artificiais em manifesto de 1970. Feminista, faz parte da segunda onda, com participação entre 1960 e 70. Disse que “a gravidez é bárbara”, colocou  o cuidado materno como a raiz da opressão feminina. Defendeu que a reprodução biológica deveria ser substituída pela ectogénese — o desenvolvimento de embriões em úteros artificiais — , disse que a reprodução era tirania, mas também enfatizou a importância da autonomia das mulheres, já que nesta época a contracepção era apenas para mulheres casadas.

Na verdade, o que se entende aqui é que essas abordagens eram frutos de um pensamento extremado e descontente com a realidade imposta na época. É como se uma pessoa se deparasse com um cenário do qual discorda veementemente e achasse que só com um ativismo mais incendiário as coisas tomariam um rumo diferente. O intento era chocar com as ideias. Hoje, as mulheres já entenderam que liberdade não se resume em abdicar da maternidade e nem da família, aliás, configurações diferentes de família são asseguradas pelo Estado aqui no Brasil. Que é possível ser só mãe e optar por ficar em casa, ou ser mãe, trabalhar e fazer um curso de dança no final de semana. Ou escolher não ter filhos e nem casar, e isso pode não ser infelicidade para ela só porque a sua perspectiva de mundo considera assim. Essa ideia de autonomia foi importante porque tirou a obrigatoriedade, como se você tivesse que reprimir os seus desejos, o que aí sim causa angústia, porque o próprio superego te dizia que querer algo diferente daquela “atribuição natural” era errado. O ser humano, seja qual for o gênero ou idade, é falho, tem acertos e desacertos, desejos diferentes e não cabe em caixinhas. É preciso se acostumar com isso.

© 2024 Observatório G | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade