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O crucifixo foi sim enfiado no ânus, mas não por representantes LGBT

Dentro do cristianismo, a cruz traz significados variados

Publicado em 17/11/2021

A cena do crucifixo enfiado no ânus viralizou em 2013 e virou uma narrativa que reverbera até hoje. É muito comum, em qualquer debate no qual a pauta LGBT+ venha à tona, este assunto ser invocado como uma forma de deslegitimar a comunidade. O crucifixo, de fato, foi enfiado no ânus, mas quem fez isso foi um casal hétero e na *Marcha das Vadias, em 2013, não na Parada LGBT+ de 2015.

“*A Marcha das Vadias” é uma mobilização essencialmente feminista que teria acontecido pela primeira vez em 2011, na Escola de Direito Osgode Hall, cidade de Toronto no Canadá. O levante seria uma resposta robusta a um policial que, indagado acerca dos abusos maciços sexuais ocorridos contra mulheres dentro da Universidade de Toronto, respondeu que abusos acabariam quando a mulher parar de se vestir feito uma vadia. (Ele usa a palavra sluts). Aí surgiu o SlutWalks (caminhada ou marcha das vadias).

Voltando ao crucifixo, a passeata em questão pedia a legalização do aborto e o fim da violência sexual. O MPE (Ministério Público Estadual) no Rio de Janeiro denunciou o casal, Raissa e Gilson, por intolerância religiosa. “Os denunciados, com consciência e vontade, vilipendiaram publicamente santos e imagens católicas, quebrando-os intencionalmente para demonstrar o seu desprezo e preconceito pela religião católica”. O protesto do casal ocorreu durante a Marcha das Vadias, que reuniu cerca de 1.500 pessoas, no dia 27 de julho, em Copacabana, zona sul do Rio. Dizem que o casal representava um coletivo artístico.

Aliás, outra performance artística que recorreu ao choque para chamar atenção foi a da Sined. Em 1992, Sinéad O’Connor era uma estrela conhecida em todo o mundo, graças ao imenso sucesso de ‘Nothing Compares 2 U’. E depois foi ao Saturday Night Live, onde rasgou uma foto do Papa João Paulo II. Sua carreira declinou a partir daí.

Crime contra o sentimento religioso

Art. 208 do CP – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Outras fotos

Nos últimos anos, Feliciano, dentre outros nomes do meio religioso, compartilha cenas supostamente ocorridas em manifestações LGBTs aqui no Brasil. Uma delas traz uma rapaz beijando outro perto da cruz. A foto na verdade é parte de um documentário americano chamado “Corpus Christi: Playing with Redemption”, de 2012.

Outra imagem em que aparece dois homens desfilando na cruz é parte de um concurso que acontece todos os anos em São Francisco, na Califórnia (EUA). Não é de surpreender que tal abordagem irreverente do cristianismo cause grande alvoroço, e vários grupos católicos e cristãos o rotularam de blasfêmia e zombaria de sua fé. Mas o grupo que o organiza insiste que seja feito com espírito de humor e que o concurso se enquadre na sua missão de “promover a alegria universal e expiar a culpa estigmática”. A enorme controvérsia também proporciona ao grupo ampla exposição pública, a fim de promover os direitos humanos e questões liberais tanto nas comunidades gays quanto nas comunidades tradicionais, diz a nota.

Cruz

Dentro do cristianismo, a cruz traz significados variados. Ela pode vir como um valor simbólico de sacrifício. Ela pode ser vista como uma imagem de adoração. Mas não são todos os cristãos que apreciam adorar a imagem de Jesus pregado em uma cruz e sangrando. Para alguns protestantes, Cristo ressuscitou, e se ele ressuscitou, ele não está mais na cruz. Nesse sentido, Cristo estaria nos céus e não em uma cruz.

A cruz com Jesus pode invocar, também, um sentimento punitivo religioso, porque é uma imagem carregada de dor.

No grego clássico, a palavra cruz significava meramente uma estaca reta, ou poste.  “A palavra grega para cruz, [stau·rós], devidamente significava uma estaca, um poste reto, ou pedaço de ripa, em que algo podia ser pendurado, ou que poderia ser usado para estaquear [cercar] um pedaço de terreno, diz The Imperial Bible-Dictionary.

A forma da [cruz de duas vigas] teve sua origem na antiga Caldéia e foi usada como símbolo do Deus Tamuz (tendo a forma do Tau místico, a letra inicial de seu nome) naquele país e em terras adjacentes, inclusive no Egito. Por volta dos meados do 3.º séc. A.D., as igrejas ou se haviam apartado ou tinham arremedado certas doutrinas da fé cristã. A fim de aumentar o prestígio do sistema eclesiástico apóstata, aceitavam-se pagãos nas igrejas, à parte de uma regeneração pela fé, e permitia-se-lhes em grande parte reter seus sinais e símbolos pagãos. Assim se adotou o Tau ou T, na sua forma mais freqüente, com a peça transversal abaixada um pouco, para representar a cruz de Cristo.” — An Expository Dictionary of New Testament Words (Londres, 1962), W. E. Vine, p. 256.

“Encontraram-se diversos objetos, datando de períodos muito anteriores à era cristã, marcados com cruzes de feitios diferentes, em quase cada parte do mundo antigo. A Índia, a Síria, a Pérsia e o Egito produziram todos inúmeros exemplos . . . O uso da cruz como símbolo religioso em tempos pré-cristãos e entre povos não-cristãos pode provavelmente ser considerado como quase universal, e em muitíssimos casos ligava-se a alguma forma de culto da natureza.” — Encyclopædia Britannica (1946), Vol. 6, p. 753.

Parada de 2015

É difícil esquecer da imagem impactante da modelo trans Viviany Beleboni, que desfilou crucificada na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Mas ela não foi a primeira a usar a cruz para chamar atenção. Madonna fez isso, em uma turnê ela surgiu pregada em uma cruz cantando. Campanhas, cujo intento seria atentar para problemas sociais também já trouxeram este simbolismo. Obras de arte usam sempre.

Viviane diz que o seu intento não foi ofender, mas trazer uma imagem carregada de dor, justamente para representar o tratamento dado para as pessoas trans.

A cruz se apresenta também como um simbolismo que clama por misericórdia e amor ao próximo.

Agora se este tipo de protesto mais chocante é positivo para a pauta LGBT é uma resposta que pode dividir opiniões. De forma geral, o choque inevitavelmente suscita uma discussão, as pessoas, independentemente de suas ideologias, acessam, então o assunto amplifica. Muitos artistas usam especialmente por conta do marketing. Se você disser, por exemplo, que o clipe da cantora x traz todos os temas sem tabu, os conservadores vão criticar a priori, mas eles vão assistir, nem que seja escondido, mas vão, por isso vende e o tema repercute.

Ok, o choque alcança mais gente, isso é um fato. Mas por outro lado, traz estigmas. Por exemplo, em toda pauta LGBT este assunto é trazido à luz de forma negativa e deturpada. Isso já chegou até no judiciário. O TJ-SP deu provimento ao recurso do apresentador Sikêra Júnior, que deveria pagar R$ 30 mil para Viviany, após o apresentador dizer que os homossexuais estariam “arruinando a família brasileira“. No entanto, após o recurso de Sikera, o magistrado entendeu como livre expressão e chegou a citar na sentença a apresentação de Johnny Hooker, na qual ele diz que Jesus é uma travesti.

Ou seja, o choque traz visibilidade para causa, mas caso não seja feito de forma estratégica e interessante, apenas será um grande teatro que servirá para aturdir os mais moralistas e ficará como munição para a oposição deturpar a pauta nos próximos anos.

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