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Entrevista

Homem trans fala sobre trabalho, autoaceitação e inclusão

O Edu chegou ao Panda por meio da Transcendemos - uma empresa de consultoria que desenvolve projetos que vão muito além da questão trans

Publicado em 12/05/2021

Em conversa com o Observatório G, Eduardo Satiro, homem trans, falou sobre o mercado de trabalho, seu processo de autoaceitação e inclusão. Eduardo integra o grupo de funcionários do restaurante Panda Ya, especializado em culinária asiática, que tem essa preocupação em oferecer oportunidade de trabalho para pessoas que precisam de colocação e enfrentam os preconceitos da sociedade.

O Edu chegou ao Panda por meio da Transcendemos – uma empresa de consultoria que desenvolve projetos que vão muito além da questão trans. O trabalho deles envolve desenvolver estratégias para a inclusão de LGBTs, mulheres, negros e negras, pessoas com deficiência e outros grupos. https://transcendemos.com.br/

É a primeira vez que falo sobre esse assunto. Estou um pouco nervoso, não é fácil abrir meu coração e contar coisas tão íntimas assim… mas sei que é um processo duplamente importante. Não é só mais uma História de vida, é uma trajetória de luta por inclusão, por respeito, por igualdade, que vai me fazer bem falar e, certamente, vai ajudar outras pessoas que estão em transição a entenderem o processo.

Meu nome é Eduardo Satiro, moro na Zona Leste e tenho 25 anos. Não quero falar meu nome de registro, acho que tudo bem, né? Aquela versão não existe mais, hoje eu sou o Edu e pronto. Mesmo sem ter feito a cirurgia de remoção dos seios, que ainda vou fazer, já me sinto inteiramente o Edu. E foi todo um processo até chegar aqui. Costumo dizer que uma pessoa trans precisa “sair do armário” duas vezes. A primeira, é quando ela se assume homossexual, e a segunda, é quando ela se apropria do seu gênero. Se a gente for comparar, dizer assim: “oi, eu sou lésbica”, é bem de boas. Já dizer: “oi, eu sou lésbica e não me identifico com meu gênero, então vou fazer uma transição de gênero”. Isso não é nada fácil, pelo contrário.

Família

A primeira etapa que a gente precisa vencer é dentro de casa, com a família. Desde criança eu sabia que algo não estava certo, e que uma mudança seria necessária. Quando completei 20 anos dei início ao processo de transição. Não procurei um médico, fiz conforme a orientação de um amigo trans, o Miguel, que também tinha feito o processo. Sei que não é o correto, mas é difícil encontrar um atendimento certo para isso, e vencer o medo do preconceito também.

Voltando a falar da aceitação com a família, é um processo contínuo…eles só me chamam pelo meu nome antigo. Como eu moro só com a minha mãe é mais de boa, ela se esforça para entender, mas sente dificuldade de me chamar de Eduardo. Sinto que ela reluta muito, mas nossa relação é boa.

Quando comecei a transição eu trabalhava em outra empresa e também tinha problemas com o nome. Apesar de não sofrer preconceito declarado, eu pedia para ser chamado de Eduardo, e só me tratavam com o nome de mulher, mesmo estando escrito Eduardo no meu crachá. A relação com os colegas de trabalho era difícil, até com os coordenadores, não era legal. Não é só preconceito, mas a dificuldade das pessoas em compreenderem essa mudança. Trabalhei lá por um ano e meio, sendo apenas 6 meses desse tempo como mulher. A questão era bem clara para mim, eles não estavam dispostos a aceitar.

Aceitação

Na rua nunca sofri nenhum tipo de agressão física ou verbal, graças a Deus…acho que isso é pela minha imagem mesmo, como tenho uma figura bastante masculina já, as pessoas não percebem. Mas a sensação que tenho é que guardo um segredo, e que vai chegar a hora de revelar. Ainda sinto que algumas pessoas, quando descobrem que eu sou um homem trans, mudam a forma de tratamento, às vezes rola um mal trato até.

A maior aceitação que tive foi com meus amigos mesmo. Me relaciono com todo o tipo de gente: gays, lésbicas, trans, héteros…é muito bom a gente poder contar com amizades de verdade. Acabamos construindo uma família de coração. Outra grande surpresa boa na minha vida foi vir trabalhar aqui no Panda Ya. É um sonho!

Passei minha vida inteira buscando algo que eu não sabia o que era, até o momento que percebi que o meu desejo era ser um homem normal, com uma vida normal, sem nada de diferente. Eu queria uma vida leve, e isso eu encontrei aqui no Panda. Como todos os meus colegas, me sinto feliz aqui. Isso ajuda no meu desenvolvimento como pessoa e meu desempenho profissional é muito melhor. Me sinto leve e parte disso tudo.

Minha função aqui, de registro em carteira, é como operador de caixa, mas faço um pouco de tudo…fotos, atendimento de delivery, host da casa, porta-voz. Me desenvolvi tanto nesse trabalho, fui tão bem acolhido que me aprimorei.

Mercado de trabalho

Vejo que o mercado de trabalho ainda está se adequando para essa realidade, no meu caso, foi através da Transcendemos que consegui uma colocação profissional. O mercado ainda é muito carente de inclusão. E não é só contratar, sabe? É preciso preparar a equipe para receber uma pessoa trans.

A Sasha, a primeira funcionária trans aqui do Panda, foi recebida de forma muito natural e o chef Victor preparou a equipe para recebê-la. Então, quando eu cheguei, foi um processo muito leve. Não digo que foi natural, pois natural é ser humano, é ser gente, independente do seu sexo, orientação ou gênero.

Uma outra coisa que eu percebo é que mulheres trans têm uma “passabilidade” mais difícil, as pessoas associam diretamente mulheres à prostituição, já isso não acontece com os homens trans. Já vi cenas de assédio horríveis com mulheres…

Sabe, é mais fácil desfazer um átomo do que quebrar um preconceito. Espero que o futuro traga mais inclusão, mais pessoas trans no convívio social e sendo respeitadas, genuinamente, em diversos segmentos…do segurança da balada ao diretor da empresa. Todos precisam entender que é normal.

Pessoas como a Gabriela, da Transcendemos, e o Victor Wong, do Panda, precisam servir de exemplo para outros empresários. Se todos fizerem um pouquinho, as coisas vão mudando.

Depoimento Victor Wong

Eu não entendo o preconceito, não aceito e acho um absurdo que as pessoas pratiquem. Na minha vida isso nunca existiu… eu sou gay, sempre fui aceito, e sinto que é minha obrigação fazer alguma coisa. Tive um relacionamento, há alguns anos, e a família do meu parceiro tinha certos preconceitos. A partir dessa vivência eu senti a necessidade de me posicionar socialmente.

Tudo começou com a Chris, uma grande amiga, que estava fazendo um trabalho com pessoas trans. Dessa forma a Sasha chegou ao Panda: nossa primeira funcionária transexual. Conversei com a equipe e foi tudo muito natural. Eu gosto do “diferente”, do que não é usual, “normalizado”. Todo mundo merece respeito, merece ter trabalho, comida no prato, teto, independentemente de como ela se apresenta para o mundo.

O Edu é idolatrado pela equipe! Passei alguns perrengues no último ano, mas ele sempre está de boa, sempre tem uma palavra bacana para a gente. Sempre enxerguei muito potencial nele, apesar da timidez inicial. É um processo de reconhecimento, de chegar a um novo trabalho e conhecer as pessoas, se entender naquele contexto. Quando ele se viu integrado, foi uma explosão! O Edu ganhou corpo, ganhou voz, e se mostrou inteiro para nós. Postura bacana, correto…não abro mão dele por nenhum outro! Construímos uma relação de confiança e nunca tivemos problema com nenhum cliente também.

Ao todo já foram três contratações de pessoas trans. E temos, também, outros colaboradores de inclusão: o Raniel, refugiado venezuelano que veio até nós pela ONG Estou Refugiado e o Bruno, que contratamos pela ONG Chef Aprendiz. O Panda é uma casa onde todos são bem recebidos e o preconceito não tem vez.

Eduardo Satiro e Victor Wong

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