Em junho de 2008, o casal de militares Fernando e Laci decidiu dar uma entrevista e ser capa da revista ÉPOCA contando detalhes sobre os seus trabalhos no Exército e também sobre o relacionamento.
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“Há muito mais homossexual no Exército do que se imagina” afirmaram na época. Na reportagem os dois contaram detalhes também sobre um suposto esquema de corrupção envolvendo um hospital militar. A atitude corajosa do casal, mudou a vida dos dois e também colaborou para mudar as leis brasileiras.
A verdade é que o casal e principalmente o sargento Laci, enfrentaram muitos problemas após as corajosas declarações. Logo depois da entrevista, Laci não compareceu ao trabalho alegando problemas de saúde e acabou sendo transferido de batalhão. Como não compareceu ao novo posto de trabalho (que ficava a mil quilômetros de distância do posto de seu companheiro Fernando), o militar foi considerado desertor por decisão da Justiça, correndo o risco de ser preso e expulso do Exército. Um mandado de busca domiciliar foi emitido para Laci.
No Código Penal Militar, datado de 1969, não havia proibição ao alistamento de homossexuais. Mas, no Artigo 235, o código tratava como crime sexual a “pederastia ou outro ato de libidinagem” e estabelecia pena de detenção de seis meses a um ano ao “militar que praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito a administração militar”.
Poucos dias depois, o casal aceitou dar uma entrevista ao vivo no programa, Superpop, da Rede TV!. Enquanto conversavam com a apresentadora Luciana Gimenez, a emissora foi cercada de viaturas da polícia e do Exército. Após horas de negociação com coronéis, o sargento Laci foi levado para um hospital militar. No dia seguinte, o presidente Lula fez o discurso de abertura da Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, o primeiro evento do gênero promovido por iniciativa do governo. Sem fazer referência direta à reportagem da revista Época, Lula disse estar “orgulhoso” pelo momento de “reparação” vivido no país.
Em 2011, uma decisão do STF equiparou os direitos entre casais heterossexuais e homoafetivos. Com base na decisão, no ano de 2013, a Justiça Federal de Pernambuco determinou que o Exército reconhecesse o companheiro de um sargento como dependente. E em 2015, o STF determinou a retirada das palavras “pederastia” e “homossexual” do Código Penal Militar.