Muitas vezes ouvimos falar de pessoas que assumiram sua sexualidade e, se você faz parte da comunidade LGBTQIA+, é muito provável que já tenha passado por esse momento de “se assumir”. O pensamento de que uma pessoa homossexual deve fazer alguma revelação a respeito de sua orientação sexual existe há muitos anos, fato que acaba deixando alguns questionamentos na mente de muitas pessoas, principalmente nos dias de hoje.
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Precisamos nos assumir? Afinal, por que estamos nos escondendo? Por que precisamos nos esconder? Esse foi um assunto levantado recentemente pelo jogador de vôlei Douglas Souza, que durante uma entrevista à ESPN, em uma matéria de comemoração ao Dia Internacional de ‘Sair do Armário’, celebrado no dia 11 de outubro.
Durante a entrevista, o esportista abordou o assunto dizendo que pessoas heterossexuais não precisam se assumir para ninguém e desta mesma forma nós também não deveríamos. Refletindo sobre o tema, o Observatório G conversou com algumas pessoas da comunidade LGBT para saber as suas opiniões e se concordam com o argumento do ponteiro da Seleção Brasileira de Vôlei.
Para o fotógrafo Ramon Ruiz, assumir não deve ser uma obrigação para pessoas LGBTs, ele também conta que nunca precisou se assumir para a família ou amigos. “Eu nunca tive esse papel de sentar e me assumir para familiares e pessoas à minha volta. Teve um momento sim, que eu decidi não evitar mais esconder nada de ninguém, o que foi bem libertador de certa forma. Mas acredito que foi um processo de me assumir para mim mesmo, do que me assumir para as pessoas a minha volta. Eu optei por ser eu mesmo por completo, sem me importar com as consequências que isso geraria.” conta o profissional.
Ramon partilha da mesma opinião que Douglas e afirma que a orientação sexual LGBTQIA+ deveria ser algo normal e livre de tabus, assim como a heterossexualidade é tratada. “Eu não acredito que nós LGBTQIA+ temos a obrigatoriedade ou o dever de nos assumirmos para a sociedade. Não deveria ser uma questão a ser perguntada a um indivíduo ou tão pouco algo fora da naturalidade. Acredito que sermos nós mesmos deveria ser algo tão comum, e livre de tabus, quanto a heterossexualidade” declarou.
Já Gabriela Mendes, parte do princípio de que o ato de se assumir pode dar às outras pessoas que sentem medo de serem quem são, um conforto por saberem que não estão sozinhas nessa luta diária que existe contra a homofobia. “A nossa realidade é que ainda existem muitas pessoas morrendo, todos os dias por serem LGBTQIA+. Existe uma homofobia tão monstruosa que as pessoas sentem medo sim, e escondem sim, e se matam por isso, é um conforto saber que não estamos sozinhos nessa, e ter pessoas que admiramos e ter pautas e movimentos a favor disso.” explica Gabriela.
Apesar de pensar que o ato de ‘assumir’ não é necessário, Ramon concorda que diante da sociedade em que vivemos, muitas pessoas tomam essa atitude por estarem lutando por algo. “Diante de uma sociedade tão doentia e pautada sobre preconceitos, machismos, homofobias, existem questões realmente delicadas atreladas a questão ‘se assumir’. Seja você lutar por causas importantes, ser representatividade para alguém ou apenas ter a liberdade de não precisar esconder suas condições” afirma o fotógrafo.
“Acredito que o primordial, na verdade, é que possamos ser capazes de assumir quem somos, para nós mesmos, primeiramente. Livre de medos, preconceitos e inseguranças. A partir daí, ter a liberdade de expor isso ao mundo, sem nenhum receio ou retaliação” finalizou.
Embora seja um assunto delicado, é importante ser abordado não apenas entre pessoas que fazem parte da população LGBTQIA+, mas pela sociedade em geral. Para que possa ser compreendido os motivos que fazem com que uma sexualidade seja vista com tanta naturalidade comparada a outras, levando em consideração o fato de que independente de gênero e orientação sexual, todos os seres humanos devem ser tratados da mesma maneira, sem que haja distinção entre eles.
É necessário também entendermos que os pensamentos divergentes não nos separam quanto comunidade, e sim que cada um possui uma forma diferente de lutar por aquilo em que acredita. Seja assumindo sua sexualidade, a fim de fortalecer um movimento e gerar representatividade, ou não achando necessário que isso seja feito, também como uma maneira de lutar por direitos e reconhecimentos iguais para todos.