A comunidade queer é um dos grupos de maior risco para depressão, ansiedade e abuso de substâncias, visto que, por décadas, assumiram erroneamente que as pessoas LGBT eram inerentemente patológicas e, portanto, estavam em maior risco de transtorno mental.
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Mas agora, alguns pesquisadores de saúde mental LGBT estão mudando seu foco para o estresse que vem da própria comunidade. “Quase todos os estudos sobre saúde mental LGBTQIA+ analisavam estressores relacionados ao estigma, rejeição familiar e religião”, diz John Pachankis, PhD, professor de saúde pública e Saúde Mental LGBTQ da Universidade de Yale.
Pachankis conta que homens gays e bissexuais relatam sentir muito do estresse vindo de seus colegas e de suas comunidades, ou o que um novo estudo liderado por Pachankis chama de “estresse entre minorias”.
Publicado em janeiro no Jornal de Personalidade e Psicologia Social, o estudo foi conduzido por cinco anos com amostras representativas de participantes de toda a comunidade gay dos os EUA e é o mais significativo sobre os estressores da comunidade entre homens gays e bissexuais.
Os participantes relataram sentirem-se estressados com o que consideravam a obsessão da comunidade com aparência, status e sexo; eles apontaram seu racismo excludente e agressividade social.
“Sabemos que os homens em geral são mais competitivos e que a competição relacionada ao masculino é estressante”, diz Pachankis. “O que esses dados mostram é que, quando esse tipo de competição acontece em uma comunidade composta por homens que se socializam e se sexualizam, o impacto sobre a saúde mental pode ser bastante acentuado”.
Em entrevista ao site THEM, Pachankis conversou os principais estressores que se originam na comunidade, seus efeitos na saúde mental e física e como homens gays e bissexuais podem se apoiar em vez de se discriminar em grupos.
Confira trechos da entrevista
“Os estressores que ouvimos nas entrevistas e depois estudamos em todo o país podem ser classificados em quatro tipos. Um deles foi o estresse relacionado à percepção de que a comunidade gay está excessivamente focada no sexo às custas de relacionamentos ou amizades de longo prazo”.
“A segunda foi que a comunidade gay se concentra excessivamente em preocupações relacionadas ao status, coisas como masculinidade, atratividade e riqueza. O terceiro estava relacionado às percepções de que a comunidade gay é excessivamente competitiva, que sustenta esse tipo de cultura sombria e competição social geral”.
“O quarto foi que a comunidade gay é excludente da diversidade, incluindo a diversidade étnica e racial e a diversidade etária, e discriminatória em relação aos gays com HIV.”
“Obviamente, as maiores fontes de risco para o HIV são as desvantagens estruturais, em particular as formas estruturais de homofobia e racismo que afetam desproporcionalmente homens de cor gays e bissexuais”.
“Na medida em que os espaços da comunidade gay se movem on-line para plataformas como Grindr, as normas de comunicação e comunidade são degradadas e reduzidas ao menor denominador comum”.
“Uma coisa que muitas vezes tem sido subutilizada na comunidade gay é a orientação intergeracional. E isso funciona nos dois sentidos. Sabemos que adultos mais velhos LGBTQ + têm maior probabilidade de morar sozinhos e isso é um fator de risco para depressão.”
A entrevista foi condensada e editada para maior clareza. Confira a entrevista completa em inglês neste link, onde se pode, também, encontrar, a publicação do estudo.