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Pastor gay rebate comentário de chanceler brasileiro sobre comunidade LGBT+

Publicado em 25/07/2019

Texto/Entrevista: André Leite Suzano

O teólogo e historiador Gregory Rodrigues, fundou a Igreja Apostólica Bênção e Vida para atender fiéis no estado de Minas Gerais. O também pastor evangélico é um homem homossexual e acredita na transformação através da fé, assim como defende a autoaceitação e a necessidade da diversidade na sociedade.

Diante dos últimos comentários do chanceler brasileiro Ernesto Araújo, sobre direitos humanos para “pessoas reais”, somente, ao comparar a existência de pessoas LGBT como “seres abstratos”, Gregory externou a sua opinião sobre o caso.

“Esta fala dele, representa um grandioso retrocesso para a comunidade LGBTI no Brasil e para a imagem de luta do país e no exterior”, afirmou. “Em nome da aliança nacional LGBTI da coordenação estadual de Minas Gerais, eu preciso repudiar de forma aberta essas falas”, completou o pastor.

Você afirma que existem duas formas de ler a Bíblia, sendo dívida entre: a que inclui é a que exclui. Quais conhecimentos você utiliza para tal afirmação?

“Não existem apenas duas formas de ler a bíblia, existem até mais que duas, o fato é que existem formas mais comuns de se interpretar determinados assuntos pautando-se nos textos sagrados, tais como a homossexualidade, divórcio e etc. Porém se não tomarmos cuidado na hora de interpretar seus textos, podemos transformar a bíblia na ‘Mãe de todas as Heresias’.

Os conhecimentos utilizados para se interpretar os textos sagrados são pautados em métodos já construídos a séculos, mais conhecidos como a arte de interpretar a Bíblia, são eles a exegese e hermenêutica. E como metodologias de interpretação bíblica podemos inclusive citar as duas mais popularmente utilizadas… O método histórico crítico, que é mais adotado pelas igrejas inclusivas e mais progressistas, pois analisa o texto sagrado sob a ótica não apenas literal do que está escrito, mas também se utiliza da história através de documentos, achados arqueológicos, para dar sentido real ao texto.

Também posso citar o método fundamentalista, que entende o texto bíblico como fonte de inspiração unicamente divina não passível de erros de tradução ou equívocos de sua interpretação, cabendo apenas uma interpretação literal do texto, ipsis litteris.”

Você atua como pastor evangélico há quantos anos e qual é a sua missão?

“Sou consagrado pastor desde os 18, 19 anos, comecei bem cedo na vida religiosa devido a herança de família que carrego. Sempre amei a vida com Deus, sempre me senti atraído por este amor sem medidas que não faz acepção de pessoas (Cf. Atos 10:34), porém como me assumi gay, me vi num grande conflito: o amor de Deus x agradar ao sistema. Por isso optei por trazer comigo uma missão: apresentar a todos e todas que sentem-se rejeitados, desamparados do amor de DEUS, amor que lança fora todo preconceito, e mostrar a todos e todas que jamais devem se envergonhar de serem quem são.”

O seu livro “Bíblia fora do Armário” tem qual intuito e quais são os ensinamentos dele, Gregory?

“O Livro nasceu de um sonho, e este sonho complementa e enriquece minha missão, que além de levar o amor de DEUS, também abarca levar conhecimento, luz sobre as trevas do preconceito, para que assim milhares de vidas deixem de ser ceifadas pelos discursos tantas vezes equivocados, carregados de ódio e em grande maioria sem qualquer conhecimento real da teologia.

Por muito tempo, pudemos ver pregações e discursos pautados em achismos bíblicos, em interpretações literais e seletivas do texto sagrado, e por isso o livro que escrevi através de uma pesquisa bibliográfica visa esclarecer os versículos bíblicos que abordam a temática da homossexualidade, demonstrando as duas principais formas de interpretação do mesmo a que aceita e a que condena as relações homoafetivas.

No meu livro o leitor poderá de maneira sucinta compreender: o que é a sexualidade humana, quais as influências a interpretação do texto bíblico sofreu com o passar dos anos, como a homossexualidade era vista nos impérios grego e romano, tudo isso de maneira simples e objetiva para assim entenderem a realidade.”

Capa do livro 'A Bíblia Fora do Armário'
Capa do livro ‘A Bíblia Fora do Armário’ (Divulgação)

Como é a aceitação dos fiéis de sua igreja com o fato de você ser um homem gay?

Atualmente não sou pastor de campo, ou seja, não tenho um ministério fixo para pastorear, sou hoje um pastor itinerante, vou onde o ‘vento soprar’, sem paredes para me segurar, para levar esta mensagem de amor e inclusão.

A aceitação dos fiéis das igrejas por onde passo é grande. É uma unanimidade, pois a grande maioria dos ministérios que atuo são igrejas chamadas de inclusivas ou para algumas igrejas progressistas, igrejas estas que tem uma visão ampla e sem preconceitos com a orientação sexual de seus sacerdotes. A igreja inclusiva se preocupa com o chamado de Deus para com o sacerdote, o caráter, seu conhecimento bíblico, sua formação, etc.

É preciso sempre deixar claro, que muito antes de ser conhecido como um ‘pastor gay’ devem me conhecer como um ‘gay que é pastor’, pois minha sexualidade não é pré requisito para meu sacerdócio e muito menos fator de desabono para o mesmo.”

O atual governo federal demonstra por várias vezes ações que são enquadradas como homofóbicas e retrógradas. Qual é a sua análise como historiador e teólogo?

“A história e a teologia não nos deixam enganar diante do atual cenário, medidas conservadoras e retrógradas não apenas para com os LGBTI+ (haja visto que vivemos no país que mais mata pessoas desta comunidade), mas todo o campo de minorias tem sido afetado, gradativamente por ações deste governo que está posto.

Temos fatos que se repetem no correr da história, durante o período da ditadura (1964-1985)… Por exemplo, de maneira aberta, a cultura, o jornalismo, e a liberdade de expressão como um todo eram vigiadas e perseguidas, tais fatos se repetem, as censuras retornaram de maneira gritante. Andam pedido a cabeça dos que discursam contra o governo atual, dados oficiais são omitidos em alguns órgãos e etc. Conquistas da comunidade LGBTI andam ameaçadas e algumas já extintas, tais como as nomenclaturas dos genitores nos passaportes, a extinção do Conselho nacional LGBTI+ e etc.

Discursos com tons xenófobos, homofóbicos são disparados por aí e quando confrontados temos como uma reação de raiva, de repressão, parecendo adolescentes discutindo no ensino médio. Temos exemplos de antigos ditadores brasileiros que agiam da mesma maneira.

Para muitos que misturam conceitos religiosos e política, é bem mais prático demonizar algo do que buscar compreender sua realidade. Temo que assim como nos tempos passados, em que manicômios como o de Barbacena (MG) eram destino de inimigos políticos, homossexuais e quaisquer pessoas que pudessem soar como indesejáveis, para o convívio social, retornem. Pode parecer exagero de minha parte, mas se não houver aqui uma preocupação com a diversidade no contexto geral, com os avanços e progressos que já foram outrora conquistados, viveremos novamente tempos sombrios como estes citados supra ou até mesmo como os tempos de Hittler ou Benito Mussolini. Vale a reflexão: ‘O governante sem discernimento aumenta as opressões, mas os que odeiam o ganho desonesto prolongarão o seu governo (Provérbios 28:16).”

Você acredita que a existência de uma simetria entre religião e política é saudável?

“Não, pura e simplesmente por acreditar que assim estas misturas podem provocar desastres. Alguns países, por exemplo, onde a religião caminha lado a lado com a política, o que manda nas leis do país é o livro de fé e não uma constituição que abarca a pluralidade de um todo.

Religião é uma questão de identidade, porém de identidade individual, onde um ser humano tem uma experiência pessoal como o ser divino, e ali constrói seu lugar no mundo, seus conceitos e etc. Porém, não é saudável acreditar que seja normal sobrepor os valores de uma ou outra religião a todo um coletivo que compreende grandiosa diversidade de crenças e culturas.

Já pararam para pensar se o presidente da república fosse ‘terrivelmente candomblecista’ e tentasse fazer valer sua regra de fé a todos os brasileiros? E se fosse ‘terrivelmente gay’? Como seriam vistas suas atitudes para com o coletivo?

A laicidade do estado jamais deve ser confundida, deve ser preservada e aprimorada para que não ocorram desastres maiores em nossa sociedade. Porém, acredito que é plenamente possível e plausível que política e religião caminhem rumo ao mesmo objetivo: um país terrivelmente respeitoso.”

Para você, a fala do chanceler Ernesto Araújo ao dizer que direitos humanos são para pessoas reais e não abstratas implica em alguma exclusão da comunidade LGBT?

“Obviamente sim! Tratar a luta e o sofrimento da comunidade LGBTi+ como apenas uma forma de manipular o que se pode ou não dizer, é colocar-nos como existentes apenas nos números, apenas no papel, não sendo necessárias políticas afirmativas de reparação e preservação dos direitos desta comunidade. A Fala do Ministro demonstra total despreparo e desconhecimento da realidade que vive a comunidade LGBTI+, onde não apenas pesquisas mostram que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTI, mas as mais variadas notícias espalhadas pela mídia que mostram como sofremos nas mãos de pessoas homofóbicas.

Mas não podemos limitar direitos humanos apenas a população LGBTI+, é necessário que toda a coletividade que necessita de tais políticas sejam lembradas e abarcadas. O Brasil foi um dos principais precursores na luta internacional contra o preconceito, porém agora parece tentar fazer voltar-nos para as sombras dos armários, uma pena agirem assim, pois serão frustrados.”

O que são pessoas abstratas para você?

“O ser abstrato compreende aquilo que só existe em uma ideia, no conceito, não saindo de uma fábula uma, estória. Por isso, para mim, pessoas abstratas são seres sem vida, seres que literalmente não carregam sopro de vida.”

Autor do livro A Bíblia Fora do Armário, o teólogo afirma com veemência que o diálogo é fundamental em todas as esferas: “Eu até entendo que ele (Ernesto Araujo) tentou corrigir a fala, ao dizer que querem defender direitos humanos sem diferenciar ‘opção’ sexual, porém cada ser humano carece de uma forma específica de construção de políticas públicas. A demanda que um hétero tem não é a mesma de um LGBTI que sofre preconceito, por isso a necessidade de políticas afirmativas, e não de tentativas de invisibilizar a comunidade e seu sofrimento. Existem estatísticas de representação dos crimes contra a população LGBTI e esses números são alarmantes. A intenção não é atacar a pessoa do chanceler mas sim a sua fala que não condiz com a real necessidade”.

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