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Direito a Deus

Sodoma: A História Mal Interpretada que Condena Homossexuais

Existe coerência na comparação de um abuso sexual coletivo com relacionamentos consensuais homoafetivos?

Publicado em 28/02/2022

Desde o Século XII, aproximadamente, o relato da passagem de Sodoma é utilizado para condenar a homossexualidade. Disseminou-se a ideia de que Deus destruiu os habitantes de Sodoma devido às práticas homogenitais.

Segundo relato bíblico, descrito no Livro de Gênesis, capítulo 19, um homem chamado Ló (sobrinho do patriarca Abraão) foi residir com sua família na cidade de Sodoma, a qual ficava próxima à região do mar morto. Certo dia, Ló se encontrava sentado à porta da cidade quando surgiram dois viajantes. Como um bom anfitrião, Ló convida aqueles dois homens para que repousem em sua casa dizendo:

Eis agora, meus senhores, entrai, peço-vos, em casa de vosso servo, e passai nela a noite, e lavai os vossos pés; e de madrugada vos levantareis e ireis o vosso caminho”.

Naquele tempo as pessoas viajavam descalças ou com sandálias. Considerando o clima das regiões desérticas, como Sodoma, permanecer a noite toda exposto ao frio poderia ser fatal. Em razão disso, havia a cultura da Lei da Hospitalidade ou Direitos da Hospitalidade. Água para lavar os pés cansados era uma necessidade, tanto por motivos de higiene quanto de conforto para o viajante.

Acerca do ato de lavar os pés, inclusive, o Evangelho Segundo Lucas, capítulo 7, relata que Jesus foi convidado a entrar na casa de um homem chamado Simão. Em determinado momento, uma mulher se aproxima e passa a regar os pés de Jesus com lágrimas e a enxugá-los com os próprios cabelos. Por se tratar de uma mulher com fama de pecadora, os homens que naquele local estavam começaram a reprovar aquela cena.  Ao perceber a reação deles, Jesus disse ao dono da casa:

Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me destes água para os pés; mas esta regou-os com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos.” (Evangelho Segundo Lucas 7:44)

O que o mestre estava dizendo é que aquele anfitrião não o havia recebido com hospitalidade, uma vez que o simples ato de oferecer água para os pés do visitante refletia uma atitude de acolhimento. Essa era a cultura tanto no tempo dos patriarcas, quanto no tempo de Jesus.

Contudo, o Livro de Gênesis diz que os homens de Sodoma eram maus e não gostavam dos estrangeiros. Desse modo, a Bíblia descreve que todos os homens, de todos os bairros, do mais velho ao mais novo, ao tomarem conhecimento da presença dos dois visitantes, dirigem-se até a casa de Ló e dizem:

Onde estão os varões que a ti vieram nesta noite? Traze-os fora a nós, para que os conheçamos“.

Ló, então, sai da casa e tenta dialogar com aqueles homens rogando-lhes que nada fizessem àqueles visitantes, oferecendo-lhes, inclusive, suas duas filhas virgens.

Os moradores de Sodoma, todavia, demonstrando mais fúria ainda, ameaçaram fazer um mal pior a Ló do que àqueles.

Na verdade, os sodomitas estavam enfurecidos por duas razões: a primeira é que Ló era um estrangeiro que estava acolhendo outros estrangeiros (em outras palavras, Ló estava extrapolando os limites); e a segunda é que aqueles moradores não queriam simplesmente um ato sexual, e Ló era conhecedor de suas intenções. O objetivo era humilhar e demonstrar domínio em relação aos viajantes.

Naquela cultura, subjugar um homem por meio da violência sexual era o mesmo que nivelá-lo a uma mulher, cujo valor na época era semelhante ao de um bem material, propriedade do pai da casa.

Logo, a questão não era um simples ato sexual em si, mas o desejo de dominação, poder e, como consequência, de humilhação.

Um historiador do século I, chamado Flávio Josefo, na obra “A História dos Hebreus”, escreveu acerca dessa passagem:

os povos de Sodoma, cheios de orgulho por sua abundância e grandes riquezas, esqueceram-se dos benefícios que haviam recebido de Deus e não foram menos ímpios para com Ele do que ultrajosos para com os homens. Odiavam os estrangeiros, e chafurdaram-se em prazeres inomináveis. Deus, irritado pelos seus crimes, resolveu castigá-los: destruir a sua cidade de tal modo que não restasse o menor vestígio dela, tornando o país tão estéril que jamais pudesse produzir fruto ou planta alguma”. (…) “Os anjos chegaram a Sodoma, e Ló, a exemplo de Abraão, também se mostrou muito atencioso para com os estrangeiros, rogando-lhes que ficassem em sua casa. Os habitantes dessa detestável cidade, vendo-os tão belos e tão apresentáveis, pediram a Ló, em cuja casa eles haviam entrado, que os entregasse, para que se servissem deles. Esse homem justo censurou-os, rogando-lhes que tivessem mais compostura, que não lhes fizessem injúria alguma, ultrajando os estrangeiros que estavam hospedados em sua casa, e que não violassem em suas pessoas os direitos da hospitalidade”.

Desse modo, a despeito dos moradores de Sodoma serem reprovados pelo ato sexual homogenital, tal prática não consistia no fim em si mesma. Ao invés disso, era um meio utilizado para se alcançar a finalidade desejada, qual seja, subjugar, dominar e humilhar o estrangeiro.

E é muito interessante quando percebemos que o próprio Jesus explica qual foi o pecado de Sodoma ao compará-la à cidade de Cafarnaum, passagem descrita no Evangelho Segundo Mateus, capítulo 11, versículo 23:

“E tu, Cafarnaum, que te ergues até ao céu, serás abatida até ao inferno; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje”.

Cafarnaum foi uma cidade na qual Jesus operou vários milagres. Entretanto, os moradores daquela localidade o expulsaram.

Desse modo, quando Jesus compara Sodoma a Cafarnaum, é como se ele dissesse: “Se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que foram feitos em ti, Cafarnaum, certamente aquela cidade teria sido receptiva e hospitaleira”.

Ora, receber um visitante nos fala exatamente de Hospitalidade. O verdadeiro pecado dos homens de Sodoma, erroneamente vinculado às relações entre pessoas do mesmo gênero, foi o fato de serem cruéis com os estrangeiros e quererem subjugá-los por meio de abuso sexual. Merece ressalva o fato de que eram todos os homens de todos os bairros. A despeito de aqueles homens quererem praticar um sexo homogenital, a finalidade daquele ato não era o sexo em si.

Interessante observar que a sociedade não apresenta dificuldade em diferenciar um abuso sexual coletivo heterossexual de um relacionamento consensual heteroafetivo (permita-me o neologismo). Na mesma linha, não há comparação entre um abuso sexual coletivo homossexual e as relações consensuais homoafetivas. É o mesmo raciocínio.

O que diferencia um abuso sexual de uma relação sexual consensual é exatamente a finalidade. Aliás, é a finalidade que torna a violência sexual um crime, o que o Direito chama de animus, ou seja, a intenção do agente.

Vincular a passagem de Sodoma às relações homossexuais é para aqueles, cujo preconceito é tão grande, que se recusam a enxergar que Pessoas Homossexuais constituem Relações Homoafetivas.

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