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Direito a Deus

I  Carta aos Coríntios 6:9-10: Homossexuais? Práticas Homossexuais?

A palavra homossexualidade surgiu no século XIX. Apesar disso, tem sido amplamente usada nas traduções bíblicas.

Publicado em 08/03/2022

Sabe aquele Jogo de Dardos cujo alvo não é atingido e ficam aquelas várias flechas lançadas ao redor do círculo? Essa é a minha comparação para as inúmeras traduções que já foram feitas na passagem da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios 6:9-10. A intenção das inúmeras tentativas é uma só: encontrar, por todos os meios, uma maneira de inserir as lésbicas, gays, bissexuais e pansexuais no contexto da condenação lá descrita.

O ponto central da discussão que envolve esse trecho da Bíblia é o significado das palavras gregas “malakoi” e “arsenokoitai”. Uma das razões para a dificuldade em traduzir essas duas palavras é o fato de que o grego koinè, ancestral do grego moderno, não é uma língua usada em nossos tempos.

Além disso, historiadores e teólogos relatam que a palavra “arsenokoitai” consiste em uma justaposição dos termos “arseno” e “koitai”, tendo sido possivelmente cunhada pelo apóstolo Paulo.

Pois bem. Vamos analisar a “salada de fruta” que os tradutores já fizeram nessa passagem?

Começando com as versões João Ferreira de Almeida, temos que a Almeida Revista e Corrigida de 1956 seguiu uma tradução mais fiel e trouxe o seguinte texto:

“Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus.”

Entretanto, a versão Nova Almeida Atualizada do ano de 2017 já apresenta o grosseiro equívoco de traduzir a palavra grega “arsenokoitai” como “homossexuais”:

“Ou vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se enganem: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem afeminados, nem homossexuais, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o Reino de Deus.”

Conforme dito, a palavra homossexual passou a existir apenas no século XIX. Logo, não há como a expressão descrita no grego koinè ser traduzida como “homossexuais”. O nome disso é anacronismo.

Porém, a criatividade (permita-me o eufemismo) não ficou só nisso. A Nova Versão Internacional tratou de piorar um pouco mais a situação, traduzindo “malakoi” e “arsenokoitai” como “homossexuais passivos e ativos”:

“Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus.”

Por fim, veio a Nova Versão Transformadora e resolveu transformar mesmo o original, em conformidade com o tamanho do preconceito do tradutor:

“Vocês não sabem que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não se enganem: aqueles que se envolvem em imoralidade sexual, adoram ídolos, cometem adultério, se entregam a práticas homossexuais, são ladrões, avarentos, bêbados, insultam as pessoas ou exploram os outros não herdarão o reino de Deus.”

Eu tenho uma tese particular para as traduções demonstradas até aqui. Inicialmente as igrejas pregaram a tal “libertação do homossexualismo”. No entanto, a libertação não veio. Nunca foi doença ou problema espiritual. Desse modo, precisaram mudar o discurso para: “não há problema em ser homossexual. O problema são as práticas homossexuais”. Enfim.

Todavia, nem tudo está perdido. Algumas versões apresentam uma tradução mais honesta e condizente com o original das escrituras. Nessa linha, observe a tradução apresentada no site Hebraico.Pro:

“Não sabeis que os injustos não hão de herdar o Reino de Deus? Não erreis: nem os fornicadores [devassos], nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados [ou covardes, ou moles], nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores [usurpadores], herdarão o Reino de Deus.”

Note que entre colchetes há um significado conferido à palavra “efeminados”: “covardes ou moles”. Flávio Josefo, um historiador do Século I, na obra História dos Hebreus, relata o período descrito no Livro de Juízes descrevendo os israelitas daquele como homens efeminados:

Os israelitas deixaram então de fazer guerra, desejando apenas desfrutar em paz e com prazer os muitos bens de que se viam cumulados. Sua abundante riqueza lançou-os no luxo e na volúpia. […] Esse oráculo deixou-os assustados, no entanto não os fez mudar de ideia e recomeçar a guerra, por causa dos tributos que recebiam daqueles povos e porque as delícias os haviam tornado tão efeminados que o trabalho agora lhes era insuportável. […] Ninguém se incomodava com o povo e cada qual só pensava no interesse e no lucro próprios”.

O contexto apresentado por Josefo apresenta a palavra “efeminados” como sinônimo de “mole” ou “preguiçoso”, trazendo uma característica vinculada ao caráter, e não no sentido de “afeminado” que é usado atualmente.

Importante refletir que não podemos ler as escrituras com a visão e valores de pessoa do século XXI. A cultura, os valores e os significados empregados às palavras eram muitas vezes distintos dos nossos.

Quanto à tradução da palavra “arsenokoitai” como “sodomitas”, observe a tradução apresentada pela Bíblia versão King James 1611:

“Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis; nem os fornicadores, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os abusadores de si mesmo com os do sexo masculino, nem os ladrões, nem os cobiçosos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os extorquidores, herdarão o reino de Deus”

A tradução apresentada nessa versão condiz exatamente com o significado que encontramos na Bíblia de Estudo Palavra-Chave da CPAD (Assembleia de Deus). A palavra grega “arsenokoitai” também aparece no texto da I Carta de Timóteo 1:10. A Bíblia da CPAD traduz como “abusador de”.

Nessa linha, observamos a coerência em se traduzir “arsenokoitai” como “sodomitas”, haja vista que aqueles homens objetivavam exatamente a prática de um abuso sexual. Esse contexto nada tem a ver com os relacionamentos consensuais entre pessoas do mesmo gênero. Raciocínio contrário levaria ao discurso inverso de que um abuso sexual coletivo heterossexual poderia ser equiparado a um relacionamento consensual heterossexual, o que é um absurdo.

Perceba que as inúmeras traduções, no mínimo, refletem uma falta de embasamento, o que gera mais contenda do que solução. Em decorrência disso, surgem questionamentos como: “por que o texto não condena as lésbicas?”; “há coerência em se condenar somente uma parcela dos homossexuais?”

A verdade é que nem “malakoi” significa homossexual passivo e nem “arsenokoitai” significa homossexual ativo.

Segundo John Boswell, um historiador do século XX, a tradução mais sensata para “malakoi” nesse texto seria “libertino”, “indisciplinado”, como também pode significar “fraco”, mas nunca homossexual.

Por sua vez, Daniel Helminiak, na obra O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade, relata que “no século I da cristandade judaica que falava o grego, arsenokoitai se referia ao sexo explorador, libertino e lascivo praticado entre homens”.

Logo, quando analisamos a palavra “arsenokoitai” percebemos que o significado mais coerente é “abusador de”. Por isso, as primeiras traduções apresentam a palavra “sodomitas”. Inclusive, considerando que na literalidade “arsenokoitai” significa “homens que penetram outros homens”, teríamos mais uma incoerência, pois há gays que não gostam de penetração. Estariam, então, livres do pecado? Enfim…

Depois dessa explanação, eu nem preciso citar o absurdo que é traduzir “malakoi” e “arsenokoitai” como “práticas homossexuais”, né? Enfim e enfim…

Portanto, é notória a intenção de se condenar LGBTIs por meio das traduções forçadas. Aliás, penso que os conservadores já acordam cedinho pensando em novos argumentos para nos condenar. Nisso, eu tenho outra tese. A próxima versão bíblica trará o seguinte texto:

“Não vos enganeis; nem os fornicadores, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem a Comunidade LGBTQIAP+, nem os ladrões, nem os cobiçosos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os extorquidores, herdarão o reino de Deus”

Você duvida? Eu não!!

E nisso, haja dardos lançados sem atingir o alvo…

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